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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Entrevista a Rui Miguel Duarte – Dia 13/07/2011




No passado dia 13 de Julho de 2011 os administradores do grupo de “Arte e Cultura Evangélica” tiveram a oportunidade de se encontrarem
em Alcochete com Rui Miguel Duarte autor do recém-editado livro de poesia “Muta Vox”. Desta conversa informal e bastante agradável resultou esta pequena e
ntrevista:

(NAF) - Rui, fala-nos um pouco de ti.
(Rui M.D.) Sou lisboeta, nasci em 1968, estudei Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa. Fui professor na Universidade da Madeira, de 1991 a 1996. Nos finais de 1997 vim ao conhecimento de Jesus Cristo como meu Salvador e Senhor através do ministério da Assembleia de Deus da Amadora. No ano seguinte iniciei o doutoramento na Universidade de Aveiro cuja tese defendi em 2006. Ainda em Aveiro participei como membro no Grupo Bíblico Universitário (GBU). Em 2006 casei-me, emigrei para França (54 — Meurthe-et-Moselle, junto à tripla fronteira da França com a Bélgica e o Luxemburgo), onde vivo ainda. Entretanto, participei como tradutor na tradução interconfessional de "A Bíblia para Todos" publicada pela Sociedade Bíblica e tenho colaborado com a Universidade Lusófona do Porto no curso de Ciências das Religiões, leccionando Grego, História da Patrística e Movimentos da Reforma. Acttualmente desenvolvo um pós-doutoramento em Retórica Grega Antiga.


(NAF) - O que pensas do actual contexto da arte e cultura evangélica em Portugal?
(Rui M.D.) - Pelo que conheço existe uma falta de reconciliação com aquilo que é a arte e cultura no meio evangélico. Penso que a Arte pode seguramente transmitir valores tais como políticos, artísticos, religiosos, etc, etc. assim c
omo outras questões da vida em geral.
O meio evangélico tem-se vindo a afastar um pouco do mundo artistico e cultural por considerar este imundo, o que não concordo. Se existe Arte quando um grupo se reúne e faz com rigor e excelência uma melodia e uma letra bem trabalhada e elaborada, então há Arte. Nos pequenos dramas nas festas evangélicas de Natal ou da Páscoa, com representação de episódios bíblicos, ou na composição de poemas e melodias para hinos ou corinhos, há arte. Porque então não aceitá-la na igreja como algo natural e nas suas mais variadas formas de expressão, tais como a pintura, o drama ou o teatro? Isto para dar um exemplo. Arte é como penso, parte da “imagem e semelhança” de Deus no homem. Deus é o supremo artista. Há possivelmente uma reacção herdada ainda da Reforma anticatólica.
Isto é: Nos templos católicos a arte sacra faz parte do trabalho de construção dos mesmos, no mundo católico a representação do sagrado está presente. Ora a Reforma quis expurgar a vivência cristã de tudo o que parecesse idolatria, e que a representação fosse objecto de culto. E muitas vezes o é, de facto. E essa purificação foi ao ponto de desprezar toda a representação em si mesma como algo imundo.
Ao mesmo tempo, a arte “evangélica” reduziu-se à tal composição de corinhos, com textos de rima fácil, ou a uma espécie de pop gospel.
Seria pois necessário que os cristãos reformados e evangélicos reconquistassem esse equilíbrio.
A arte é intrínseca à criatura humana, é uma expressão da humanidade. E arte recuperada para propósitos divinos, de glorificar Deus e Jesus Cristo, pode e dever ser vista como uma dádiva, um meio para tal.

(NAF) - Rui, como poeta e artista que apoios tens recebido?
(Rui M.D.) - Tenho recebido apoio essencialmente da minha família, amigos e também de pessoas com quem mantenho contacto no Facebook, que de alguma forma apoiam o meu trabalho.

(NAF) - Rui, e o seu primeiro livro de poemas "Muta Vox? Como te surgiu a ideia de o escreveres?
(Rui M.D.) - De uma forma espontânea, fui reunindo alguns textos que se enquadravam no mesmo tema/estilo, em seguida organizei-o por capítulos e procurei uma editora que reunisse as melhores condições em termos de orçamento e de qualidade no trabalho pretendido. E surgiu o conhecimento desta editora, sem dúvida a que me ofereceu o melhor orçamento. E o trabalho correspondeu às minhas expectativas. Uma precisão: não se trata de uma editora, mas de impressores, a edição é de autor, pelo que foi paga por mim. Eles imprimiram, mas deram uma chancela própria, Sinapis Editores.
Com o título, em latim, pretende o poeta transmitir a ideia de que a sua voz estava muda, mas, uma vez aberto o livro, finalmente se expressa. Antes muda, agora verbalizada, é a voz inicial do poeta.

(NAF) - Tens naturalmente outros projectos em mente, podes dizer-nos alguns?
(Rui M.D.) - Tenho com certeza muitos mas os que gostaria a um curto prazo são concluir um trabalho pós-doutoramento e editar um segundo livro.

(NAF) - Rui, e o futuro?
(Rui M.D.) - Gostaria a um médio prazo conse
guir reunir todas as condições para voltar definitivamente para Portugal. Espero consegui-lo brevemente.



Muito obrigada Rui pela disponibilidade e simpatia, muito sucesso para o futuro tanto a nível profissional como pessoal.
Um bem haja!

Neusa Adelaide Figueiredo

Manuel Adriano Rodrigues



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amor de Deus

Quando penso
No amor de Deus
Nas maravilhas que Ele fez neste mundo
E o mundo
não dá valor ao seu amor

Começo a pensar
o que será das pessoas que não temem a Deus
È verdade
O que lhes irá acontecer
Só Deus sabe

Mas nós também sabemos
Que breve está a Sua vinda
Os sinais que estão escritos na sua palavra
Já estão acontecer

Por isso meus irmãos
Cheguemo-nos mais ao Senhor
Para que possamos
Estar prontos no dia
Da sua Vinda

Regina Ferreira

Reciprocidade

Falam do tempo como quem fala de pão e queijo
Ele hoje está que não se pode.
Essa indelicadeza não se pode
Está da dureza das pedras e da cor de bolor.
O tempo não se sabe com vinho tinto,
ninguém conhece o tempo.

Nem ele se conhece.
Mas falam dele como quem fala de caça
E o sol que não há meio de aparecer
O sol não é uma lebre e não há cão de
muito bom faro e patas demais velozes
que o desenvencilhe,
do interior do horizonte,
se a sua timidez estiver no auge do brilho
Quando muito se parece ao pavão
que determina a pose e a hora de pousar
Mas os pavões não se caçam
porque são bonitos como o sol, e o tempo.
Falam do tempo como quem fala de mulheres
Leva agasalho que isto não está estável.
O tempo não desfigura os lábios,
não ondula os cabelos,
não engrandece a cintura,
não arregala os seios:
O tempo não partilha dessa efémera formosura
e nós devíamos amá-lo como ele é,
em vez de falarmos dele como quem fala de teatro:
Olha que está frio, não te deixes enganar pelo sol.
Como nós, o tempo tem uma face e não duas.
Como nós, a face una do tempo chora e sorri.
Porém, sempre os mesmos olhos,
sempre a mesma alma, não diferente palpitar
o do coração, não diferentes as verdades,
ainda que nubladas.
Falem do tempo como quem fala de criaturas!
Criaturas como quem fala de pessoas,
pessoas, como quem fala de nós,
de nós como quem fala de dentro,
de dentro como quem fala de si,
de si como quem fala de dentro de si:
saudade.
O tempo e nós fomos feitos um para o outro,
desenho da nossa simbiose:
regra três simples:
sol está para:
paixão-quase-amor, lágrima, inércia, medo,
assim como:
chuva está para:
xis.
Xis é igual a:
chuva vezes paixão-quase-amor, lágrima, inércia, medo
a dividir por sol.
Xis é igual a:
alento, sorriso, amor-apaixonado, coragem.
Nós e o tempo somos auto-impotentes:
não escolhemos como estamos.
Mas o nosso romance tem poder.



Rui Ramalho

‎Sensibilidade

Quero sentir profunda e verdadeiramente,
Ser a semente e o mar que sentem o luar,
Ser o girasol que a luz recebe repetidamente,
Ser a águia atenta que ascende no ar.
Não sou o crocodilo que guarda os filhos na boca,
Mas quando chora engole mais uma vítima.
Não quero o ego, nem a argumentação oca,
Nem trocar simpatia por uma palavra íntima.
Quero compreender sem fazer julgamento,
O que vejo, oiço e sinto de cada coração
E falar a palavra certa no devido momento.
Quero fazer tudo o que me é possível
E o resto entregar a Deus em oração.
Quero ser a amizade presente.

Quero ser sensível.


Mário Baleizão Jr

Amigo

Hoje é um dia especial
dia do amigo
lembra-te que ele é essencial
teu abrigo

Amigo é aquele que está contigo
sempre
quem não te deixa sofrer
e está contigo
em horas tristes te sabe suster

Amigo é aquele que ama ajudar
Faz tudo por ti, sem te magoar
dá alegria e amor
luz, vida e cor

Amigo é um grande valor
que muitos não sabem ver
amigo é como um escritor
que ninguém sabe descrever

Amigo pinta a tua vida
com toda a cor e magia
amigo é raio de sol
luz de um farol

Amigo é estrela
oriente
é caravela
e ocidente

Amigo é mar encantado
delicado
verdadeiro
e conselheiro

Se tens um amigo de verdade
Mostra-lhe a todo tempo
a tua amizade
Em todo o momento

Sara Pereira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

No deserto da minha vida

Meu Senhor,
Como é difícil atravessar o deserto,
sentir a solidão bater na porta do meu coração
Os meus olhos banharem-se em lágrimas

Um sorriso que brotaria dos meus lábios,
foi sucumbido pelo desespero e aflição
Os meus lábios sussurraram socorro
nesse momento de tribulação.

Por muito tempo estive diante de ti
a suplicar, contendo as lágrimas
Ouviste Senhor as minhas suplicas,
abraçaste-me, aconchegaste-me

Estendeste a tua mão poderosa,
e sustentaste-me para que eu
pudesse passar pelo fogo sem me queimar,

para que eu pudesse passar pelas águas
Sem me afogar


Margarida

domingo, 10 de julho de 2011

Arte fotográfica de: Marina Duarte








O excelente trabalho da fotógrafa Marina Duarte, que tem
vindo a desenvolver e aperfeiçoar a sua técnica na área da
fotografia digital.
Parabéns Marina pelo teu trabalho!

Para conhecer o trabalho de Marina Duarte clique no link abaixo.

http://olhares.aeiou.pt/inspiracao_foto4719729.html

terça-feira, 5 de julho de 2011

“Um outro começo”




“Não pares… “ disse a mulher desviando, por instantes, o olhar, da copa da árvore sob a qual estavam deitados.
O homem sorriu e retomou o deslizar da mão pela silhueta da barriga dela. “O que tens?”, perguntou.
Ela hesitou um pouco. Entre os dois nunca houvera segredos, mas ultimamente sentia-se assaltada por pensamentos que pressentia perigosos, capazes de ameaçarem a sua existência em comum, tão perfeitamente construída. Eram o casal mais feliz do mundo e sabiam-no. De que servia perturbar essa certeza? Finalmente, encontrou uma resposta:
“Alguma vez pensaste na sorte que temos?”
O homem voltou a sorrir. Agora era ele que não sabia o que responder. Nunca pensava nestas coisas. Gostava da vida que tinha, do trabalho no campo, de cuidar dos animais. Gostava daquela mulher forte e mansa que todas as noites enlaçava os pés nos dele antes de adormecer. Não sabia dizer se era uma questão de sorte; era a única vida que conhecia e nunca desejara outra.
Desviou o assunto: “E se fôssemos ver os flamingos?”
O sapal ficava perto, antes da ria, depois de uma descida íngreme de terra barrenta e pedras soltas ladeada por árvores de fruto e vinhas. Durante a maior parte do ano, oscilava entre o cinzento que o vaivém da maré produzia e os castanhos, mais ou menos pardos, das aves que por ali poisavam. A chegada do Outono alterava tudo: centenas de flamingos rosa e branco enchiam os canais de cor, dando-lhe um ar feliz e cremoso. O casal ia até lá muitas vezes e nunca se cansava da paisagem tão familiar e previsível, até na mudança.
O homem pensou: “Não é sorte; tudo é, apenas, como pode ser”.
Antes da última curva, uma macieira lançava sobre o caminho alguns ramos carregados, numa espécie de saudação aos passeantes. A mulher reparou nos frutos vermelhos e brilhantes e quis tirar um, não porque sentisse fome, mas pelo prazer de o arrancar, despojar a paisagem, tornar imperfeita uma existência que começava a não lhe permitir desejar nada.
“Vou tirar uma maçã. Também queres?”
O homem respondeu: “Deixa isso. Sabes que o senhor não gosta. Além disso, não há necessidade. As lá de cima são melhores. Quando voltarmos, comemos”.
A mulher hesitou. Lançou um último olhar às maçãs. Imaginou-as rijas e doces, sentiu a pressão dos dentes à primeira dentada, o sumo a escorrer-lhe pelo queixo. O braço esquerdo fez um movimento para colher uma e retraiu-se novamente. Não era capaz.
“Eva ?”
“Estou a ir”.



Célia Costa
05/07/11